O investigador-chefe da ONU, Detlev Mehlis, está se retirando da investigação, mas não antes de apresentar um segundo relatório em 10 de dezembro de 2005, que buscava salvar a reputação esfarrapada de seu relatório anterior, que se baseou fortemente em duas testemunhas duvidosas para implicar altos funcionários do Governo sírio.
Uma dessas testemunhas – Zuhair Zuhair Ibn Muhammad Said Saddik – foi mais tarde identificada pela revista alemã Der Spiegel como um vigarista que se vangloriava de se tornar “um milionário” a partir do seu testemunho sobre Hariri.
O outro, Hussam Taher Hussam, retratou o seu testemunho sobre o envolvimento sírio, dizendo que mentiu à investigação de Mehlis depois de ter sido raptado, torturado e ter oferecido 1.3 milhões de dólares por autoridades libanesas.
No seu relatório de acompanhamento, Mehlis respondeu afirmando que a retratação de Hussam foi coagida pelas autoridades sírias que alegadamente ameaçaram a família de Hussam. Mas as acusações contraditórias já tinham dado à investigação a sensação de “um thriller de espionagem fictício”, como observou o New York Times. [NYT, 7 de dezembro de 2005]
Agendas Políticas
A busca da verdade foi ainda mais confusa pelas várias agendas políticas que giram em torno do caso.
A administração Bush procurou utilizar a investigação de Hariri para pressionar a favor da mudança de regime na Síria; políticos libaneses anti-Síria aproveitaram o relatório para isolar simpatizantes sírios no Líbano; e os líderes sírios queixaram-se de que estão a ser incriminados por inimigos internos e externos que querem desestabilizar o governo.
Há também a complexa questão do motivo. Hariri, um rico empresário com laços estreitos com a monarquia saudita, tinha muitos inimigos que poderiam querer a sua morte, quer pelos seus negócios, quer pelas suas relações políticas.
Após o ataque de 14 de Fevereiro, foi entregue à televisão Al-Jazeera uma cassete de vídeo na qual um jovem libanês, Ahmad Abu Adass, afirmava ter executado o atentado suicida. De acordo com o vídeo, Hariri foi alvo de militantes islâmicos por causa do seu trabalho como “agente dos infiéis” na Arábia Saudita.
O primeiro relatório da ONU baseou-se nas duas testemunhas agora desacreditadas – Saddik e Hussam – para rejeitarem a fita de vídeo como parte de uma campanha de desinformação destinada a desviar suspeitas da Síria.
Mas é verdade que Hariri ofendeu as autoridades sírias ao opor-se à continuação do mandato do presidente pró-Síria do Líbano.
O antigo vice-presidente da Síria, Abdul-Halim Khaddam, disse que o presidente sírio, Bashar Assad, teve um confronto furioso com Hariri vários meses antes do assassinato, embora Khaddam - agora no exílio - tenha evitado implicar Assad no assassinato de Hariri. [NYT, 3 de janeiro de 2006]
Progresso Forense
Em meio à névoa da complicada geopolítica da região, um dos poucos pontos positivos na investigação de Hariri tem sido o progresso na investigação forense - particularmente o mistério da Mitsubishi Canter Van branca que foi vista em uma câmera de segurança indo em direção à casa de Hariri. carreata imediatamente antes da explosão.
O primeiro relatório da ONU descreveu a van como o veículo que entregou a bomba. Os investigadores até identificaram o veículo preciso a partir de números encontrados nos escombros, incluindo um pedaço do bloco do motor.
A investigação descobriu que a carrinha tinha sido roubada no Japão quatro meses antes, mas o relatório mostrou pouco esforço para investigar quem poderia ter roubado o veículo e como este chegou do Japão ao Líbano.
Depois que o primeiro relatório foi divulgado em outubro, escrevi um artigo sugerindo que possivelmente a esperança mais promissora para desvendar o caso seria perseguir de forma mais agressiva as pistas forenses, especialmente quem possuía a van por último. [Veja Consortiumnews.com’s �O Relatório Hariri Perigosamente Incompleto.�]
O segundo relatório da ONU revela alguns progressos nesta frente. A polícia japonesa concluiu que a van provavelmente foi enviada, no todo ou em partes, para os Emirados Árabes Unidos, um estado do Golfo Pérsico conhecido como centro de contrabando no mundo árabe.
Os investigadores da ONU também procuraram ajuda das autoridades dos EAU para rastrear os movimentos deste veículo, incluindo a revisão de documentos de transporte dos EAU e, com a assistência das autoridades dos EAU, a tentativa de localizar e entrevistar os destinatários do contentor em que o veículo ou acredita-se que suas peças tenham sido enviadas”, disse o relatório.
No lado do Líbano, no entanto, as autoridades de segurança disseram que não tinham registo dos números de identificação do motor ou chassis da carrinha em qualquer veículo registado no Líbano.
Portanto, pode ser difícil – ou mesmo impossível – determinar quem tomou posse do veículo depois de este ter deixado os EAU e depois, presumivelmente, ter passado de navio através do Canal de Suez até um porto no Mar Mediterrâneo. Mas claramente ajudaria a investigação saber onde o veículo pousou e quem o recolheu.
“Esta linha de investigação permanece em seus estágios iniciais”, afirmou o relatório.
À medida que a investigação da ONU avança e um novo investigador é escolhido para substituir Mehlis, a atenção da imprensa provavelmente continuará centrada na pressão exercida sobre as autoridades sírias para que cooperem mais plenamente.
Mas as provas forenses – tanto seguindo o rasto da carrinha como possivelmente rastreando a origem dos explosivos – poderiam oferecer a melhor esperança de finalmente descobrir a verdade e possivelmente levar os assassinos de Hariri à justiça.